Frei António é apenas uma denominação reproduzida em etiquetas utilizadas para colar em garrafas de vinho branco produzido na quinta. Certamente existiram muitos freis ou frades de nome António mas tenho dúvidas que algum deles alguma vez tenha pisado o chão desta quinta.
É a propósito destas etiquetas e do vinho produzido que relato o descalabro e a decadência duma quinta que foi próspera e rica, como as imagens deixam constatar.
Feitos em gesso, os maravilhosos tectos que ornamentam algumas das salas atestam a prosperidade desta propriedade e a riqueza gerada provém da produção vinhateira desenvolvida nos largos hectares de terreno, em redor do património edificado constituido pela casa do senhorio, habitações secundárias para acomodar caseiro e serventes, adegas, capela, piscina e e outras casas e armazéns de apoio.
A ganância de quem tem muito e ainda quer mais determinou o fim da quinta. O negócio do vinho expandia-se de forma surpreendente com a carteira de clientes a aumentar sucessivamente ao ponto do terreno se tornar pequeno para a quantidade de vinho necessário para satisfazer a procura. A solução que se apresentava aos proprietários passaria pela criação de parcerias com pequenos produtores da zona que garantissem o fornecimento da matéria-prima à quinta que, assim, conseguiria satisfazer os seus clientes com a disponibilização do vinho necessário às encomendas.
A esta opção de dependência de terceiros, sobrepôs-se a avidez dos donos que optaram por uma via fraudulenta e sem custos adicionais: adulterar a produção vinícula com acréscimos de água e aditivos. Desta forma, o vinho “feito a martelo”, garantiria o abastecimento necessário.
A incessante ambição de lucro fácil e imediato cegou por completo os proprietários, de tal forma que em momento algum pensaram nas consequências dos actos praticados. Não foi necessário sequer esperar pela redução da procura na sequência da perda de qualidade do vinho. A denúncia da prática de adulteração tomou a dianteira e passado muito pouco tempo as autoridades fiscais apresentavam-se à porta da quinta para verificarem se tais actos ilícitos eram verdadeiros, selando de imediato as adegas e áreas de engarrafamento do vinho para posterior investigação.
Conscientes dos delitos cometidos e antes que as autoridades iniciassem as análises no dia seguinte, imediatamente os proprietários decidiram fugir pela calada da noite, deixando tudo para trás. Obviamente que a fuga teve como destino um outro país, o mesmo que recebera, durante os anos anteriores, as transferências de capitais resultantes dos rendimentos obtidos na actividade da quinta.
Deixar a quinta ao “deus dará” não era uma dor de cabeça para os proprietários, pois já tinham garantido os meios necessários para viver abastadamente no país que os iria receber.
Ao que consta, as autoridades fiscais retiraram apenas das adegas as cubas e pipas repletas do líquido adulterado e outros equipamentos que indiciavam ter sido utilizados nos actos ilícitos.
A minha visita fotográfica à quinta ocorreu muito tempo depois destes factos terem acontecido, pelo que não é de estranhar que muito do espólio, particularmente o que existia nas áreas residenciais, tenha desaparecido por actuação dos larápios residentes...
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