Em tempos remotos, um homem percorria um trilho em direcção ao litoral. Vinha do interior sul e já tinha uns bons quilómetros nas pernas sem qualquer pausa e descanso. Os campos verdejantes ostentavam a primavera que era mas estava bastante calor nesse dia.
Teimava em avançar sem parar mas o seu destino ainda ficava distante e as forças começavam a exigir uma pequena paragem para restabelecer a energia. Chegado a uma vasta área plana, avista ao longe um pequeno outeiro com algumas árvores. O caminho que o orienta vai mais ou menos na sua direcção e vê ali um local ideal para descansar um pouco. Chegado ao outeiro, apenas bastou umas dezenas de metros para desviar do caminho e dirigir-se até ao pequeno aglomerado de árvores. Poisou a sua sacola onde trazia alguns haveres, comida e água. Tirou o chapéu, fechou os olhos, limpou o suor da testa e do rosto até voltar a abrir os olhos e percorrer com eles toda a paisagem constituída por um grande campo plano e verde ladeado por pequenos montes. Sem tirar os olhos daquela natureza, sentou-se "saboreando" a melancolia e paz que lhe invadiram também o seu interior e o fizeram estender-se sobre as verdes ervas. Deixou-se dormir e só na manhã seguinte é que acordou, sem fome, sem sede, sem cansaço e cheio de energia para continuar o caminho...
Obra de algum dom divino, as dádivas que aquele sítio lhe ofereceu não o deixaram prosseguir, tal eram reconfortantes o seu estado físico e mental. Decidiu ali permanecer por mais algum tempo para continuar a alimentar-se daquela tranquilidade e reflectir sobre o porquê da inesperada leveza espiritual em que se sentia. Estranhamente, a fome e a sede não o atacavam... Ao terceiro dia o seu sossego foi interrompido pela aproximação de um casal que, ao passar no caminho em direcção a uma aldeia próxima que habitavam, viram o homem e a ele se foram chegando, perguntando-lhe se necessitava de cuidados.
Ele contou-lhes sobre a sua proveniência e destino, sobre os efeitos da paragem no local que atribuiu a alguma intervenção divina e miraculosa que o retivera ali, fazendo com que perdesse a vontade de prosseguir viagem. Disse ainda que já tinham passado três noites desde que ali chegara e que não teve necessidade de se alimentar.
O casal, homem e mulher, mostraram alguma surpresa com a narração que o homem viajante lhes fez e afirmaram que já descansaram várias vezes no local e, também eles, tiveram sensações semelhantes mas menos intensas. Comentaram que talvez o sítio tivesse atributos sagrados e que por isso deveria ali ser edificada uma ermida em veneração a um santo. O homem viajante concordou de imediato com a ideia afirmando que, de certeza, o motivo da sua permanência estava relacionado com alguma tarefa de que fora incumbido de realizar naquele local e que ainda não tinha conseguido identificá-la. Para ele, aquele homem e aquela mulher eram anjos que Deus lhe enviara ao caminho para o ajudarem a decifrar a mensagem dívina: construir uma ermida em veneração a São Cristovão dos Viajantes do Outeiro. Centrada sobre a forma e os meios de levar a cabo tal empreitada de construir ali uma ermida, a conversa continuou por mais algum tempo, terminando com um convite do casal dirigido ao homem viajante para deles ser hóspede na casa que habitavam na aldeia próxima e lá continuar, com o auxílio do casal, a efectivar a tarefa que lhe foi atribuída.
Nota: qualquer semelhança com a verdadeira história desta ermida é pura coincidência.
Muitos anos depois, a ermida ainda por lá se encontra no estado que o video e as fotografias sugerem...