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19 julho 2019

O deserto florescerá

Hoje comemora-se cinquenta anos da primeira pégada do homem na Lua. Também hoje o blog Decadência Latente lança-se oficialmente no imensurável mundo da web...
Publicar registos da exploração a uma nave espacial ou a um foguetão, perdidos por aí, viria mesmo a calhar e seria mais adequado à efeméride de hoje. Ainda não surgiu essa oportunidade mas tenho fé que tal ocorra.

Fé! Ora nem mais! Sinais de fé foi precisamente o que achei encontrar na moradia e espaços exteriores envolventes que suportam a publicação de hoje.



A sua história? Quando me desloquei ao local não esperava ter lá alguém à minha espera para servir de cicerone e me contar a história. Assim foi! Portanto, desconheço a história daquela propriedade. Como tal, prefiro enveredar por uma narrativa imaginária baseada nos elementos e nas coisas observadas. Mais certo também é que, tendo conhecimento dos factos reais do lugar, não os descreveria aqui porque correria o risco de estar a ser repetitivo na escrita feita por outros e que pode proliferar por essa rede fora. Por outro lado, também não vou apelidar a casa de um qualquer nome, pois assim evitarei coincidências e descoincidências.

Logo na entrada da propriedade a fé dá as boas vindas e em certa medida revela um pouco da identidade espiritual do espaço onde acabo de entrar. Num género de lápide em azulejo encontra-se  inscrita nota de abertura do primeiro versículo, primeiro capítulo,  do Evangelho de S. João: "No princípio era o Verbo..." No jardim, o alpendre do Senhor abençoa a paisagem...

A visita aos interiores começou num anexo geminado com a casa principal que não tem ligação directa. Pelo seu aspecto e localização, diria que se assemelha a uma garagem que acabou por ser transformada em oficina de trabalhos e de recolhimento espiritual. As cruzes e a cadeira baloiçante virada para aquelas conferem um imaginário ambiente de oração e meditação. Estou ciente de que muitos devotos do urbex (e de outros mundos) já por ali passaram antes de mim, pelo que a disposição das coisas e dos elementos já não manterá a sua originalidade. Há quem goste de compor o seu ramalhete de tal forma que a sua pegada urbex fica bem agigantada. Se ao menos voltassem a colocar os objectos onde eles se encontravam anteriormente... E até manteriam como exclusivos os seus cenários!

Este espaço de "oficina" acabou por ser o ponto crucial para sugerir alguma interpretação do modo de vida das pessoas (ou da pessoa) que habitavam o local. É óbvio que o aspecto religioso se expande fortemente por quase todas as divisões da habitação, sobretudo na sala meio escurecida em tons vermelho-alaranjados, graças ao cortinado da mesma cor que esconde a luz e a janela. No centro da sua parede principal está uma grande cruz de madeira agarrada por cordéis, os quais se encontram sustidos por pregos. A ladear a cruz, estão dois pequenos quadros que representam a Virgem Maria com o menino.

Com a existência de dois quartos, presume-se que esteja parcialmente dissipada a dúvida de haver uma ou várias pessoas a coabitar na casa. Pelo menos os quartos existem e as camas lá permanecem. Para se dormir em paz com a graça divina também é requerida a presença de algum símbolo religioso, pelo que não é de espantar que num dos quartos marque presença uma outra pequena cruz. Também a comida deve ser abençoada! Para isso nada melhor que a representação da última ceia que se encontra na cozinha.

Aquilo a que poderá chamar-se de sala de escritório ou de biblioteca é uma divisão próxima da cozinha que reúne uma secretária, cadeira, sofá e estantes. Todos os livros são conducentes com a simbologia religiosa encontrada nas outras divisões. Nesta sala, os objectos religiosos e suas representações apresentam-se convertidos em palavras. 

A maior ou menor intensidade da prática religiosa ou da vida espiritual levada pelas pessoas ou pessoa que por ali vivenciavam não substitui nem dispensa necessidades básicas, como comer ou beber, tal como nos comuns mortais. Por isso não se deve estranhar a existência de uma pequena adega para transformação das uvas em vinho, da mesma forma que os cálices de vinho se encontravam distribuídos pela mesa da última ceia de Cristo (e certamente o mesmo aconteceu nas ceias anteriores).

Resta agora contemplar o mais importante: as imagens! O video virá a seguir, em próxima publicação.




























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