Até ao dia em que visitei este presídio militar, só conhecia o interior duma prisão em filmes que visionei como por exemplo “Os condenados de Shawshank”. Daí alguma curiosidade e expectativa no momento da entrada naquele lugar.
Poderia dirigir a escrita deste texto para transcrever a história deste presídio militar que nem sempre tal foi desde que, em 1565, o Cardeal D. Henrique ordenou a sua construção. Prefiro abordar a ideia utópica dum mundo cheio de prisões vazias, ideia essa enquadrada no princípio similar de que “os médicos passariam mal se todas as pessoas passassem bem”…
O mote acercou-se de mim quando, já no interior do presídio, percorria a longa ala dos prisioneiros constituída por pequenas celas que ocupavam os dois pisos do edifício. A estrutura imponente que outrora abrigava prisioneiros erguia-se naquele momento silenciosa e vazia diante de mim, sendo difícil perceber que um lugar assim, onde antes ecoavam sons da disciplina militar e da reclusão, se encontrasse agora desocupado. Onde antes existiam celas, quiçá sobrelotadas, e guardas vigilantes, agora reinava o silêncio e a solidão.
Contemplei as grades enferrujadas das celas e os vestígios das vidas que um dia por ali passaram. Mas agora, aqueles espaços estavam livres da sua função original. Deixaram de ser necessários para punir ou reabilitar. Era como se a própria noção de crime se tivesse desvanecido, deixando para trás apenas um vestígio daquilo que um dia foi.
Neste presídio desocupado, pude vislumbrar a utopia de um mundo onde os crimes eram coisa do passado. Onde as diferenças eram resolvidas com diálogo e compreensão, em vez de violência e retribuição. Onde a justiça era mais do que uma questão de aplicar punições, mas sim de criar condições para que todos pudessem viver em harmonia.
Caminhando pelos corredores e observando as celas vazias, imaginei um futuro onde todas as prisões estariam desocupadas, como consequência duma transformação fundamental na sociedade. Um futuro onde a empatia e o respeito mútuo substituiriam a necessidade de leis punitivas. Um futuro onde a liberdade não seria apenas um privilégio, mas sim um direito inalienável de todos os seres humanos.
Ali, entre as paredes despidas e os portões enferrujados do presídio militar, vislumbrei um mundo melhor, onde a utopia da ausência de crimes não era apenas uma fantasia, mas sim uma possibilidade real e tangível.
Se o sonho comandasse a vida…
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