Visitei o Mosteiro de Santa Maria de Seiça em 2019, quando se preparava para ser intervencionado com obras de reabilitação. A sua função religiosa terá terminado por volta de 1834, tendo ficado desativado e sem atividade durante largos anos. Já no século XX foi transformado em fábrica de descasque de arroz.
Alguns sensacionalistas intitulam-no de mosteiro assombrado só para captar público. Quando lá fui não vi assombramento nenhum e só fazia sombra porque era um dia com sol!...
Socorrendo-me de pesquisas e consultas na internet, passo a resumir alguns elementos cronológicos que marcaram a história deste mosteiro.
A mais antiga referência documental que se conhece sobre este mosteiro data de 1162.
Em 1175, D. Afonso Henriques emite carta de doação do couto de Barra a D. Pelágio Egas, abade de Santa Maria de Seiça.
A partir de 1195 o Mosteiro de Seiça passou para a Ordem de Cister, passando a albergar uma comunidade de monges brancos e em 1555 foi suprimido por D. João III e os seus bens foram destinados à Ordem de Cristo.
Seria D. Sebastião que em 1560 restituiria o mosteiro novamente à alçada da grande abadia cisterciense, através da Bula de Pio IV que anulou a extinção do Mosteiro de Santa Maria de Seiça.
Em 1572 procedeu-se à construção de um mosteiro inteiramente novo.
Devido à sua proximidade do Colégio de Santa Cruz de Coimbra, o Mosteiro de Seiça passou a funcionar como centro de estudos filosóficos da ordem.
Embora o convento se encontrasse bastante arruinado, nele se destacava o corpo da Igreja, considerada a peça mais interessante do conjunto edificado. Possuía nave única com capelas laterais intercomunicantes, possuindo originalmente coro-alto. O espaço do transepto, que seria coberto por cúpula, bem como a capela-mor, foram-se degradando depois da saída dos monges, em 1834, ficando completamente ao abandono e à mercê das intempéries e do vandalismo.
Com a extinção das Ordens Religiosas, em 1834, o conjunto arquitetónico foi apropriado pelo Estado, tendo posteriormente sido entregue à Junta de Paróquia de Nossa Senhora do Ó do Paião a Igreja e a Sacristia do Mosteiro, através de Carta de Lei de 22 de Fevereiro de 1861, emitida por D. Pedro V. Desde então, ao longo de mais de século e meio, o Mosteiro de Santa Maria de Seiça foi sofrendo às mãos dos homens que nele apenas viam valor económico.
Em 1895 a Junta de Paróquia vendeu o Mosteiro de Seiça a particulares e em 1911 foi vendido novamente. Os novos proprietários transformaram-no numa unidade industrial de descasque de arroz, a qual terá terminado a sua laboração por volta de 1976.
Em 2002 o Mosteiro de Santa Maria de Seiça foi classificado como Imóvel de Interesse Público e em 2004 foi celebrada a escritura de compra do Mosteiro de Seiça por parte da Câmara Municipal da Figueira da Foz.
Devoluto desde o encerramento da unidade fabril e dotado ao abandono, o que subsistia do mosteiro de Santa Maria de Seiça encontrava-se em avançado estado de ruína. Remanescem a igreja, amputada em metade do seu tamanho e sem a abóbada da nave, as alas norte e poente do claustro, os espaços destinados à portaria e hospedaria, parte das celas do dormitório do primeiro piso, o corpo respeitante à cozinha e refeitório e parte do segundo claustro.
VÍDEO
Antevendo-se a concretização
da sua recuperação, o mosteiro foi reclassificado como monumento nacional em
junho de 2023.
Após as obras de reabilitação
e posterior inauguração, em 26 de janeiro de 2024, este imóvel deixou de ser
motivo de exploração urbana. Obviamente!
As imagens que se seguem
apresentam o estado atual do mosteiro, depois de recuperado, permitindo a reutilização
deste monumento nacional de elevado valor patrimonial e cultural, devolvendo a
sua identidade à população e ao visitante, permitindo a fruição deste espaço, e
o desenvolvimento da cultura e do conhecimento histórico, através da sua
preservação e sustentabilidade futura.
Lugares e coisas expostas ao declínio e à ruína...
Ao longo de mais de 10 anos, algumas centenas de explorações urbanas e rurais permitiram reunir um vasto conjunto de registos de fotografia e vídeo.
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